RACISMO:
A hiperssexualização do corpo negro uma reflexão necessária
“Se escolhe dedicar minha vida a luta
contra a opressão, estou ajudando a
transformar o mundo no lugar onde
gostaria de viver” bell hooks
Por: Jean Gomes – Irmandade Sankofa
O
racismo no Brasil e no mundo se apresenta de inúmeras formas, seja
explicitamente ou de forma velada, para tal, entre as faces do racismo podemos
sinalizar algumas: Epistemicídio (a ausência e negligência de uma educação
formal de qualidade que possibilite uma mobilidade intelectual e social desses
sujeitos, de forma que potencialize suas capacidades cognitivas. Infelizmente a
educação é ofertada em doses homeopáticas acarretando na manutenção do
conhecimento científico e do status qua
de um determinado grupo não negro ao longo do percurso histórico. Além de não
apontar dentro da academia e bancos escolares a presença de referenciais negros
e negras na produção do conhecimento, ou seja, a criança especificamente não se
reconhece nesse contexto, fator que contribui também para o complexo de
inferioridade desses sujeitos); Feminicídio (assassinato e violência da mulher
fruto do machismo e da sociedade patriarcal. Segundo dados do Instituto de
pesquisa Aplicada – IPEA há 13 casos de homicídio contra a mulher por dia no
Brasil. No ensejo do dia Internacional da Mulher o banco mundial publicou um
relatório intitulado: Como é ser mulher no maior país latino-américano?[i] Em que,
essencialmente as mulheres indígenas e negras estão mais vulneráveis a
violência de gênero, e no mercado de trabalho as mulheres negras ainda estão em
situação de desigualdades em relação às mulheres brancas e homens); Genocídio
do povo negro (morte física do corpo negro; extermínio deliberado; dados levantados
pela Anistia Internacional[ii]
indicam que mais de 30 mil jovens são assassinados por ano no Brasil, sendo 77%
negros, na faixa etária entre 15 e 29 anos).
Além do fetiche estereotipado por esse corpo negro que por ora é
paradoxal.
Isto posto, a reflexão necessária
que propõe esse texto é pensar sobre as contradições do corpo negro sobre a
ótica, concepção e interpretação das pessoas. Ponderar sobre o que está
internalizado no imaginário social dos indivíduos. O corpo que por ora é
enaltecido aparentemente de forma positiva é o mesmo corpo que é aniquilado e
exterminado em todos os sentidos pela supremacia branca. Sendo por vezes silenciadas
e naturalizadas essas mortes. A questão que nos cabe é refletir sobre até onde
essa hiperssexualização do corpo negro tem uma carga de empatia? Será que além
dessa obsessão pelo pênis há a capacidade de se colocar no lugar do outro? De
se sensibilizar? Você até elogia e se regozija com corpos de homens negros, mas
você se incomoda, indigna-se com suas mortes em massa? Não há um tom de ironia
nisso?
Ocorre
que, essas mesmas pessoas, considerando até as mulheres negras, as quais
refletem o racismo em sua linguagem e ações, mas é bom frisar aqui que o negro
e negra não é racista com outro negro (a), apenas reproduz o racismo que foi
internalizado em seu consciente historicamente. Talvez essa reeducação só
ocorra com a tomada de consciência de si mesmo e da sua condição no mundo.
Todavia, especialmente mulheres brancas que objetificam esses corpos, e não é
qualquer corpo, sendo fitness em sua maioria, os “negões” ou “pretinhos do
poder”, entretanto, poder esse que sutilmente é extremamente perverso ao forjar
e reforçar a idealização de um homem mais forte psicologicamente e fisicamente,
diríamos até que onipotente tendo a vanguarda do corpo eroticamente desejado,
aquele sexualmente quente e “picudo”.
É
interessante avaliarmos se esse fetiche “involuntário” sobre o corpo negro não
reforçaria o machismo e sentimento de superioridade frente às mulheres? Pois,
via de regra o pênis nessas circunstâncias se caracteriza como o ápice e
símbolo da hegemonia masculina. Algumas expressões comumente utilizadas, bem demonstra: “piroca do negão”; “negão do WhatsApp”; “pegada do negão”; entre
tantas outras que da um panorama e noção da condição de sujeitos elevados,
alados.
Essa
impulsiva reação de cobiça pela estética negra se apresenta em espaços e
lugares, marcando acentuadamente e condicionalmente cada corpo. Não obstante,
pessoas que desenvolvem um discurso sobre o corpo negro salvaguarda na retórica,
por vezes não conseguem distanciar do arquétipo uno idealizado, ou seja,
habitualmente é comum ouvirmos falas “você é estiloso”, “você é bonito”, mas
deveria malhar um pouco, determinando um paliativo para aquele corpo que por um
notável detalhe ainda não está perfeito.
Para
tanto, a observação que se faz é sobre a negligência com esse corpo que,
sobretudo é político. Sabemos que a militância e ativismo não devem ser forçados
e que ninguém é obrigado a tal. Mas, em contrapartida não podemos corroborar
com essa prática que sustenta e alimenta o racismo em suas estruturas cruéis, a
qual anula e fragmenta o corpo negro ao órgão sexual masculino de maneira a
degradar com roupagem romântica e falsa afetividade. Sobre isso bell hooks diz
“A arte e prática de amar começam com nossa capacidade de nos conhecermos e
afirmar”, para isso, é preciso destruirmos isso tudo e nos educarmos interiormente.
Desse
modo, compactuarmos com essa lógica “corpo-destruição” seria extremamente
insensato, incoerente e de longe irresponsável com o nosso povo. Assim, se você
não é capaz de mover uma palha, ao não naturalizar as vidas negras, de se
indignar com as mortes da chacina cabula, da chacina de Osasco, da morte de
Claudia Ferreira, do desaparecimento do Amarildo, da ação truculenta da
Caatinga assassina, da prisão racista de Rafael Braga e do encarceramento sumario
do povo negro. Você não tem respaldo nenhum para deitar com um corpo negro.
Você vive literalmente ao encontro do pensamento Freyriano sobre o mito da
democracia racial.
Portanto,
o corpo negro é lugar sagrado que emana por amor, justiça e sobrevivência.
[i] http://www.worldbank.org/pt/news/feature/2017/03/08/ser-mujer-brasil
[ii] https://anistia.org.br/campanhas/jovemnegrovivo/
Nenhum comentário:
Postar um comentário