sexta-feira, 14 de abril de 2017

RACISMO: A hiperssexualização do corpo negro uma reflexão necessária




RACISMO: A hiperssexualização do corpo negro uma reflexão necessária

“Se escolhe dedicar minha vida a luta contra a opressão, estou ajudando a
transformar o mundo no lugar onde gostaria de viver” bell hooks

Por: Jean Gomes – Irmandade Sankofa

O racismo no Brasil e no mundo se apresenta de inúmeras formas, seja explicitamente ou de forma velada, para tal, entre as faces do racismo podemos sinalizar algumas: Epistemicídio (a ausência e negligência de uma educação formal de qualidade que possibilite uma mobilidade intelectual e social desses sujeitos, de forma que potencialize suas capacidades cognitivas. Infelizmente a educação é ofertada em doses homeopáticas acarretando na manutenção do conhecimento científico e do status qua de um determinado grupo não negro ao longo do percurso histórico. Além de não apontar dentro da academia e bancos escolares a presença de referenciais negros e negras na produção do conhecimento, ou seja, a criança especificamente não se reconhece nesse contexto, fator que contribui também para o complexo de inferioridade desses sujeitos); Feminicídio (assassinato e violência da mulher fruto do machismo e da sociedade patriarcal. Segundo dados do Instituto de pesquisa Aplicada – IPEA há 13 casos de homicídio contra a mulher por dia no Brasil. No ensejo do dia Internacional da Mulher o banco mundial publicou um relatório intitulado: Como é ser mulher no maior país latino-américano?[i] Em que, essencialmente as mulheres indígenas e negras estão mais vulneráveis a violência de gênero, e no mercado de trabalho as mulheres negras ainda estão em situação de desigualdades em relação às mulheres brancas e homens); Genocídio do povo negro (morte física do corpo negro; extermínio deliberado; dados levantados pela Anistia Internacional[ii] indicam que mais de 30 mil jovens são assassinados por ano no Brasil, sendo 77% negros, na faixa etária entre 15 e 29 anos).  Além do fetiche estereotipado por esse corpo negro que por ora é paradoxal.          
            Isto posto, a reflexão necessária que propõe esse texto é pensar sobre as contradições do corpo negro sobre a ótica, concepção e interpretação das pessoas. Ponderar sobre o que está internalizado no imaginário social dos indivíduos. O corpo que por ora é enaltecido aparentemente de forma positiva é o mesmo corpo que é aniquilado e exterminado em todos os sentidos pela supremacia branca. Sendo por vezes silenciadas e naturalizadas essas mortes. A questão que nos cabe é refletir sobre até onde essa hiperssexualização do corpo negro tem uma carga de empatia? Será que além dessa obsessão pelo pênis há a capacidade de se colocar no lugar do outro? De se sensibilizar? Você até elogia e se regozija com corpos de homens negros, mas você se incomoda, indigna-se com suas mortes em massa? Não há um tom de ironia nisso?
Ocorre que, essas mesmas pessoas, considerando até as mulheres negras, as quais refletem o racismo em sua linguagem e ações, mas é bom frisar aqui que o negro e negra não é racista com outro negro (a), apenas reproduz o racismo que foi internalizado em seu consciente historicamente. Talvez essa reeducação só ocorra com a tomada de consciência de si mesmo e da sua condição no mundo. Todavia, especialmente mulheres brancas que objetificam esses corpos, e não é qualquer corpo, sendo fitness em sua maioria, os “negões” ou “pretinhos do poder”, entretanto, poder esse que sutilmente é extremamente perverso ao forjar e reforçar a idealização de um homem mais forte psicologicamente e fisicamente, diríamos até que onipotente tendo a vanguarda do corpo eroticamente desejado, aquele sexualmente quente e “picudo”.
É interessante avaliarmos se esse fetiche “involuntário” sobre o corpo negro não reforçaria o machismo e sentimento de superioridade frente às mulheres? Pois, via de regra o pênis nessas circunstâncias se caracteriza como o ápice e símbolo da hegemonia masculina. Algumas expressões comumente utilizadas, bem demonstra: “piroca do negão”; “negão do WhatsApp”; “pegada do negão”; entre tantas outras que da um panorama e noção da condição de sujeitos elevados, alados.
Essa impulsiva reação de cobiça pela estética negra se apresenta em espaços e lugares, marcando acentuadamente e condicionalmente cada corpo. Não obstante, pessoas que desenvolvem um discurso sobre o corpo negro salvaguarda na retórica, por vezes não conseguem distanciar do arquétipo uno idealizado, ou seja, habitualmente é comum ouvirmos falas “você é estiloso”, “você é bonito”, mas deveria malhar um pouco, determinando um paliativo para aquele corpo que por um notável detalhe ainda não está perfeito.
Para tanto, a observação que se faz é sobre a negligência com esse corpo que, sobretudo é político. Sabemos que a militância e ativismo não devem ser forçados e que ninguém é obrigado a tal. Mas, em contrapartida não podemos corroborar com essa prática que sustenta e alimenta o racismo em suas estruturas cruéis, a qual anula e fragmenta o corpo negro ao órgão sexual masculino de maneira a degradar com roupagem romântica e falsa afetividade. Sobre isso bell hooks diz “A arte e prática de amar começam com nossa capacidade de nos conhecermos e afirmar”, para isso, é preciso destruirmos isso tudo e nos educarmos interiormente.
Desse modo, compactuarmos com essa lógica “corpo-destruição” seria extremamente insensato, incoerente e de longe irresponsável com o nosso povo. Assim, se você não é capaz de mover uma palha, ao não naturalizar as vidas negras, de se indignar com as mortes da chacina cabula, da chacina de Osasco, da morte de Claudia Ferreira, do desaparecimento do Amarildo, da ação truculenta da Caatinga assassina, da prisão racista de Rafael Braga e do encarceramento sumario do povo negro. Você não tem respaldo nenhum para deitar com um corpo negro. Você vive literalmente ao encontro do pensamento Freyriano sobre o mito da democracia racial.
Portanto, o corpo negro é lugar sagrado que emana por amor, justiça e sobrevivência.







[i] http://www.worldbank.org/pt/news/feature/2017/03/08/ser-mujer-brasil
[ii] https://anistia.org.br/campanhas/jovemnegrovivo/










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