sexta-feira, 18 de setembro de 2015

CULTURA NEGRA EM MOVIMENTO

Nos dias 10 e 11 de Outubro deste ano, o Irmandade Sankofa em parceria com a Associação de Moradores da Katyara realizará o Cultura Negra em Movimento. Este evento, é uma iniciativa de cunho social e racial, que visa promover por meio de atividades de caráter sócio-cultural-educativo alternativas, que contribuam para construir e valorizar outras perspectivas pela afirmação e reconhecimento da identidade negra na Comunidade da Katyara - Amargosa/BA.



Realização: Núcleo de Negras e Negros - Irmandade Sankofa e Associação de Moradores da Katyara e Adjacências

Apoio: Coordenadoria Ecumênica de Serviço - CESE

Parceir@s: Centro Sapucaia; Universidade Federal do Recôncavo da Bahia; Centro de Formação de Professores; Projeto Tecelendo UFRB; Prefeitura Municipal de Amargosa; Cine do Povo.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A MÍDIA E A CRIMINALIZAÇÃO DAS COMUNIDADES NEGRAS

Como já é sabido de todos nós, negros e negras, a mídia audiovisual, desde a sua criação, presta-se única e exclusivamente a servir aos interesses da pequena elite branca burguesa, que difunde sua ideologia dominante, como verdade absoluta. Em Amargosa, as mídias informativas locais, não fogem a essa norma.

Recentemente, foi publicado em um site online chamado Amargosanews , uma notícia de extremo risco para a comunidade negra da Catiara. Segundo esse site, essa localidade está sendo gerida pelo tráfico, e citou a criação de uma “poderosa facção” criminosa, denominada Catiara.

Para uma mente desinformada, essas informações, além de gerarem um pânico extremo, aliado a uma imensa sensação de insegurança, reforça a ideia de que as comunidades negras é o principal locuns da criminalidade. Dessa forma, a ação da polícia, torna-se o desejo imediato dos (as) habitantes desse espaço sócio racial. 

Entretanto, é preciso que algumas questões sejam escurecidas ao público negro, a respeito dessa notícia, a fim de livrar a nossa comunidade desses estigmas sócio raciais e evitar a morte precoce dos nossos jovens. Tendo a Favela como um local de abundante periculosidade, a ação truculenta e despreparada da polícia, que na sua integra é racista e reacionária, acaba sendo justificada por uma falsa sensação de insegurança que a mesma ira garantir, ao exterminar os integrantes das ditas “facções”.

Por outro lado, percebe-se um extermínio do povo negro, que habita nessas comunidades, sob a alegação de serem criminosos, geradores de insegurança e violência, quando, na verdade, é apenas a polícia fazendo o seu trabalho para o estado: EXTERMINAR POVO NEGRO. Sobre isso, os dados nos apontam para uma guerra eminente, pois, no Brasil, a cada 10 mortos (as) por tiros da polícia, NOVE são negros (as).

Quando a mídia cria uma falsa notícia como a citada acima, a própria comunidade cria no seu seio e [consciência] um estado de insatisfação, pânico e insegurança, sendo levado (a) a cada morador (a) a duvidar da idoneidade de seu irmão (ã), acreditando que o (a) mesmo (a) seja um (a) criminoso (a) em potencial, e até justificando a violência policial, na falsa tentativa de garantir a segurança da comunidade. Sabemos que esse não é o real interesse da polícia.

Quando um (a) jovem negro (a) morre dentro da comunidade, ou vítima de um suposto combate com a polícia, sua morte acaba sendo justificada e minimizada pelo fato de que, segundo a mídia e a polícia, o mesmo era criminoso, traficante e perturbador da “ordem”. Assim, a própria comunidade condena o (a) jovem e aplaude o seu principal inimigo, reforçando a política higienista do estado brasileiro que, desde o período colonial, é racista e fascista.

Dessa forma, nós do NÚCLEO DE NEGROS E NEGRAS -IRMANDADE SANKOFA, através desta carta, REPUDIAMOS a falsa notícia propagada pelo site Amargosanews, a respeito da comunidade da Catiara e repudiaremos quaisquer tentativas de criminalização das comunidades negras dessa cidade, a fim de garantir a sobrevivência dos nossos jovens negros e negras contra esse estado genocida e racista.


CONTRA O GENOCÍDIO DO POVO NEGRO, NENHUM PASSO ATRÁS

terça-feira, 4 de agosto de 2015

O RAP E O SEU PODER ENTRE JOVENS NEGROS (AS)

Após alegrar-me com a "volta" do grupo de RAP RZO, retornei a ouvir um dos seus álbuns "A evolução é uma coisa". Este, em específico, marcou o cenário do RAP nacional em 2002, só quem é entenderá. Dentre tantas as frases e versos expressos, uma me chamou mais a atenção... Especificamente no refrão da música "Vários Manos", que diz o seguinte: "A vida é assim... Favela ou crime; Foi bom pra mim; Responsa humilde; A mili-ano o que é; Tem que ser o que é; Tem que ser!!!"

Bem, penso que estrategicamente formos (a população Negra) inseridos no quadro de violências, num arcabouço de mazelas.. "criminalidade".. de subalternizações... A mili-ano, a séculos sobrevivemos mediante o medo, o terror, aos extermínios sistemáticos de nossa população, sobretudo os (as) jovens negros (as).

E partindo disto, do cotidiano destes jovens, que vivenciam as consequências de serem moradores (as) de periferia, começam a problematizar criticamente pelas músicas e discursos em espaços informais, em espaços tidos como “marginalizados” pela ocupação destes grupos sociais. Tal ação de negligência, exclusão e confronto histórico, foi incorporada a uma metodologia produzida (entre a arte e realidade). E por meio disto, a juventude utiliza a rebeldia aprendida nas ruas, como modo estratégico de sobrevivência coletiva da população negra, servindo como meio autônomo e alternativo de educar a si e a outros. 

Para Magro (2002), parafraseando Silva (1999), afirma que o RAP constitui-se com um determinado tipo de linguagem juvenil, simbolizando um modo de educação não-formal que almeja descrever a realidade cotidiana com o intuito de propiciar outros modos de percepção e interação. Assim, as “canções de rap são denúncias da exclusão social e cultural, violência policial e discriminação social; constituindo-se de longas descrições do dia-a-dia de jovens que vivem nas periferias” (Magro, 2002, p. 71).

De acordo com isso, o rapper e escritor Eduardo Taddeo, expressa o seguinte: “Pros filhos da burguesia, esse ideário chegou via sala de aula ou biblioteca particular, já para maioria dos filhos da miséria, o fio condutor foi outro: o “RAP”!” (2012, p. 117). 

Neste sentido, pensando e construindo propostas por meio deste quadro, o RAP tornou-se o elemento de luta contra-hegemônica, propondo alternativas educativas, culturais, de valorização, entre outros.. para as pessoas e as quebradas... 

Por meio deste mundo, buscamos a compreensão da práxis, do mundo opressor e limitador que nos envolve... E transformamos esse contexto em RAP, e por ele, refletimos, construímos estratégias de superação do nosso lugar socialmente definido, e deste lugar produzimos algo além de só arte... 

Pois, para além da estética, e um movimento juvenil urbano, o RAP criou um ambiente em que o “eu” e o “mundo” são conectados no movimento que perpassa entre a percepção, sensibilidade e a consciência social. E tais aspectos quando refletidos, e trazidos como objeto cognoscível na atividade prática, podendo servir como uma grande ferramenta para a construção de outras formas de conhecimento. 

Reflexões entre o frio e o calor de Amargosa -BA...

Referências:

MAGRO, Viviane Melo de Mendonça. Adolescentes como autores de si próprios: Cotidiano, educação e o Hip Hop. Cad. Cedes, Campinas, v. 22, n. 57, agosto/2002, p. 63 – 75. Disponível em: <http:// www.cedes.unicamp.br>. Acesso em: 22/04/15.
TADDEO, Carlos Eduardo. A Guerra não declarada na visão de um favelado. 1ªed. São Paulo, 2012.
RZO. Música Vários Manos. Disponível em: <http://www.vagalume.com.br/rzo/varios-manos.html>. Acesso em: <04/08/15>

Por: Manoel Alves de Araújo Neto - Uh Neto - Irmandade Sankofa

quinta-feira, 23 de julho de 2015

FORMAÇÃO POLÍTICA PARA NOVXS INTEGRANTES - INSCRIÇÕES



Para se inscrever na Formação Política envie um e-mail para: irmandadesankofa@yahoo.com.br.

Solicitamos os seguintes dados:
1. Nome completo;
2. Telefone para contato;
3. Endereço;
4. Idade;
5. Área de atuação.

Responda também as seguintes perguntas:
1. Possui experiência com algum movimento social?
2. Conhece o Núcleo de Negras e Negros - Irmandade Sankofa?

Para confirmação de sua inscrição encaminharemos um e-mail.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

NOTA DE REPÚDIO - CORTES NA EDUCAÇÃO PÚBLICA


Nós do Núcleo de Negras e Negros - Irmandade Sankofa, viemos perante toda população brasileira, e sobretudo negra, manifestar veemente repúdio as previsões de cortes e cortes em recursos na educação pública. Falamos do nosso lugar, o lugar de estudantes negras (os) ingressos e egressos na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB; do lugar de moradoras (es) da cidade de Amargosa; do lugar de negras (os) que historicamente foram negados/reduzidos o acesso e permanência na educação básica e superior; do lugar das (os) negras (os) que compõem e ocupam um espaço de produção de conhecimento científico, e por que não dizer do lugar no Centro de Formação de Professores - CFP. 

Pretende-se com esta nota de repúdio, declarar total apoio aos movimentos sociais e políticos em prol de uma educação pública de qualidade. Partindo disso, vamos falar de nossa realidade, pontuamos aqui, os cortes/redução de custos nos programas da CAPES (PIBID, PROCAMPO, PARFOR) e do MEC. Considerando os impactos em cortes destes programas/projetos, ao se falar do CFP fica explícito e escurecido que a população afetada diretamente é sobretudo, a negra. Sim, nós negras (os) que desenvolvemos pesquisas no CFP na cidade de Amargosa e cidades do Recôncavo e Vale do Jiquiriçá, que preenchemos as vagas de bolsa de estudo/pesquisa/extensão, que lutamos por uma contra hegemonia de produção do conhecimento científico eurocêntrico, nós que estamos ocupando o espaço acadêmico, nós estamos nos filiando a grupos e movimentos na tentativa de propor uma educação diferenciada e de qualidade. Deixamos “escuro” aqui, que não generalizamos esta realidade para todo Brasil, até por que somos a exceção, somos a UFRB em que 84,3% das (os) estudantes são pretas (os) (AFIRMATIVA, 2014). 

Doravante, não mensuramos as consequências para as camadas populares desfavorecidas, mas ratificando com Saviane (2012, p. 30) “a classe dominante não tem interesse na transformação histórica da escola (ela está empenhada na preservação de seu domínio, portanto, apenas acionará mecanismo de adaptação que evitem a transformação)”. Nesse sentido, compreendemos que a conjuntura atual do nosso país, bem como as medidas governamentais propostas corroboram com um modelo de educação progressivista adotada ao longo da história pelos opressores. 

Não basta pra nós garantir o acesso de pretas (os) às Universidades públicas, NÓS queremos mais, temos o direito de querer mais. ACESSO é pouco, queremos garantir nossa PERMANÊNCIA, seja ela material e simbólica, e para as (os) pretas (os) egressos, exigimos a PÓS – PERMENÂNCIA. 

PERMANÊNCIA é um conceito muito caro, já que diz respeito a possibilidade de existir. Permanecer não pode ser entendido aqui, como o simples ato de persistir apesar e sob todas as adversidades, mas a possibilidade de continuar estando dentro; estando junto (REIS; 2009). 

Nesta perspectiva, as previsões de cortes e cortes na educação não apenas reduz a quantidade de bolsista em determinado projeto (a grosso modo), mas sepulta o direito de muitos jovens negras (os) permaneceram estudando. Para sermos mais generalista, tal ação, sepulta todo o sacrifício e luta de famílias, para que sua (seu) filha (o) seja a (o) primeira (o) a ingressar e egressar do ensino superior. Sepulta a possibilidade de ter uma vida universitária e dedicar-se exclusivamente aos estudos, de participação em eventos científicos, de processos de filiação estudantil. Sepulta a transformação da realidade da escola pública, já que nossas (os) professoras (es) estão sendo formados de maneira precária.

Os cortes orçamentários de programas e projetos afetarão não apenas o bolso, mas algo que não possui valor, algo que não pode ser calculado, nem medido, o conhecimento. É uma via de mão dupla, afinal, a tríade ensino – pesquisa – extensão enquanto elementos teóricos e práticos devem fazer parte da vida universitária. Quantas pesquisas estão sendo ameaçadas? Quantas instituições deverão interromper o cordão umbilical que fora construído processualmente na relação cotidiana da universidade - comunidade? Quantas realidades poderíamos transformar, intervir, colaborar com a sociedade? 

Encaremos nossa realidade, a educação pública não é prioridade do Estado, já que é a primeira instância a sofrer com os cortes no orçamento nacional. A educação pública é uma educação de pobre para pobre, diríamos mais, é uma educação de preta (o) e pobre para preta (o) e pobre. 

Sendo assim, a supremacia branca governante de nosso país faz questão de precarizar a educação, afinal, quem quer ver (as) pretas (os) no poder? Quem quer ver o preto na produção do conhecimento científico? Por isso nos questionamos, quem tem direito a educação de qualidade? Ora, sabemos a resposta, mas deixemos que você pense sobre isso... 

Assim, torna-se crucial o posicionamento que contraponha este arquétipo continuísta inculcado pela classe dominante, cabendo ações similares às quais os movimentos negros impunham bandeiras de lutas, objetivando romper o dualismo existente nos currículos. 

Dessa forma, ponderando especificamente sobre nosso lugar de fala, de ação, de pesquisadoras (es) enquanto membros da comunidade acadêmica e não acadêmica, é nefasto, incoerente qualquer corte orçamentário na educação que afete drasticamente a vida acadêmica, os projetos de vida e a mobilidade social desses sujeitos. Sendo assim, buscamos da Reitoria da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB, um posicionamento em sessão pública sobre os impactos para vida estudantil, considerando esta universidade como a primeira do país a ter uma Pró – Reitoria proposta a pensar e promover as políticas afirmativas no Brasil.

Recebemos a universidade!
Construímos a universidade!
Ocupamos a universidade!
Somos parte da universidade!
Queremos respeito para com as categorias que compõem a universidade!
Queremos respeito aos programas e projetos que produzem ciência na universidade!

Queremos mais negros com diploma na sociedade!

sexta-feira, 26 de junho de 2015

CONFLITO ENTRE OS (AS) QUE CONVIVEM EM MEIO AOS CONFLITOS



Este ensaio textual reporta-se a descrever uma breve reflexão sobre as intempéries que foram submetidas ao povo negro no Brasil. Estas ações, a meu ver, produziram conflitos, que perpassaram por conjunturas históricas, sociais e culturais, correspondendo, consequentemente, em algumas causas no desenvolvimento da coletividade, além de, agir de modo destrutivo com efeitos danosos na afirmação da identidade, realidade, interação, e etc. do povo negro.
Neste âmbito, o texto revela em si, um conteúdo direto, não distante do que foi e é [re]produzido contra nós negros (as). De fato, sua linguagem é fria e dura, advinda do entrelaçamento do arcabouço de vivencias reais e concretas, extraídas das “quebradas”. Por isso que, mesmo que o texto aborde reflexões não aprofundadas, a contextualização de sua problemática relata de forma dinâmica, precisa e elucidativa, uma escrita afiada, amadurecida, bem como, esdruxula – “mandigueiramente” falando –, para deflagrar críticas contundentes e compromissadas.
Bem, de onde eu falo? Do meu lugar! Mas, qual o meu lugar mesmo? O meu lugar define-se socialmente como o do excluído, invisibilizado, estereotipado, enclausurado, o do pensando como o não-ser, e etc. E deste lugar, posiciono-me de modo crítico, atuante, e ativamente reflexivo como sujeito orquestrado com as consequências sócio históricas. Percebe-se, por isso, que a compreensão dos elementos estruturais que circundam a realidade dos que sobrevivem nas coesões destrutivas, pode ser à possibilidade de mudança para reescrever outros contornos diante das circunstâncias trágicas.
A condição existencial conflituosa do (a) negro (a) aos olhos do opressor é o lugar do subalterno silenciado. O subalternizado necessita ser representado por esta nesta condição, ocupando o lugar de não-ser, do sujeito que é sujeitado a ser objeto. Mas não estou falando de qualquer objeto. Este se enquadra à vista do opressor enquanto objeto híbrido, ou seja, modificado, sendo somente reconhecido e percebido como objeto, que pode ser manipulado, pensado, moldado e adestrado a seguir regras de doutrinação. A posição de subalternizado incorpora a uma lógica que promove a falta de confiança no desenvolvimento da personalidade individual e/ou coletiva, que revela em situações de invisibilidade e não reconhecimento no convívio com a dominação do opressor.
Diante disso, é válido afirmar que o lugar do (a) negro (a) torna-se o do conflito, pois diante do quadro antagônico, nas convergências de forças contra o branco, como não se perceber neste lugar, se historicamente, somos coagidos (as), condicionados (as) a ser pertencente de um lugar sem sentido.
É um fato que, historicamente o povo negro foi e é perseguido. Não precisa conecta-se abstratamente para perceber ou assimilar a veracidade dessa premissa, pois ao enveredar pelas estatísticas do Mapa da Violência ou até mesmo nas periferias do Brasil compreenderás tal afirmação. Sendo assim, contestarás que, não foi e não é atoa que somos a população mais pobre do mundo. Que a nossa condição social é o elemento estratégico para a supremacia branca e como massa de manobra nas operações de extermínio.
Assim como os (as) negros (as) africanos (as) foram arrancados (as), sequestrados (as) violentamente pelos europeus de suas terras natais, a adaptação com o tempo tornou-se necessária para reconstituir e restaurar as forças, pois assim como uma planta que sofre com as mudanças na sua estrutura física pelo transplante para outro terreno, o (a) negro (a) coagido (a) a esta situação, só restava lutar pela vida, pela liberdade.
Sobrevivemos em meio às adversidades de fenômenos sociais, políticos, culturais e históricos que contribuíram para nos colocar no lugar de destaque na subalternização e seleção social, cujo aparato mórbido, resultou consequentemente nos conflitos internos e externos do nosso povo.
E para nós, lutar pela sobrevivência, se manter vivo, torna-se quase uma regra, torna-se fator primordial de resistência, ou como disse Mano Brown “temos que ser duas vezes melhor!” E malandramente sobrevivemos nas vielas da vida, construindo elementos alternativos, contra hegemônicos para reagir conforme o que a realidade apresenta. Por isso, que incorporamos na maioria das vezes outros modos de estruturar diretrizes ríspidas, contundentes e condizentes na construção de outras perspectivas de vida, que possibilitem outras percepções de mundo.
As violências ocorridas continuam sendo pautadas como ações que retiram as pessoas de experienciar as relações reais da vida, colocando-as como figurantes no espetáculo produzidos pela negligência do Estado. A violência que está sendo produzida por este inimigo do povo negro, é invisibilizada pela camuflagem de interesses múltiplos, que velam o real sentido por trás de cada ato que se apresenta.
Pela estrutura histórica que estamos envolvidos, inseridos, implantaram facilmente o sentido de que o inimigo do preto é o outro preto, é o que? É isso mesmo! O preto que se torna inimigo do outro, é o mesmo que sofre com as mesmas mazelas sociais do seu vizinho ao lado, da frente, do bairro oposto, de outro estado, de outro continente. Essa semente germinou de modo estratégico, de modo, que não percebamos qual é nosso inimigo em comum. Uma coisa é certa, o meu inimigo, não mora onde eu moro, muito menos divide as mesmas dores que meu povo, a “fantada” aqui meu irmão sempre teve um gosto amargo!
O nosso inimigo sempre veio em nossas “quebradas” disfarçado de “bons interesses”, carregados de “boas intenções” incorporado com o espirito de "papai noel". Então como posso desconfiar de quem sempre me desejou bem, me concedendo bens? Ele é um ser bom! Apôs meu chapa, este deve ser o primeiro que devemos desconfiar!
Foi e é tudo pensado, o nosso inimigo, age mais ou menos desse modo, primeiro nos coloca nas piores situações sociais, depois como quem não quer nada “presenteia-nos” dos diversos modos, inventam outro tipo de inimigo folclórico, como por exemplo, o traficante. Este figura tem uma característica similar nas “quebradas”, quase sempre preto, anda largado, tatuagem no corpo, comunica-se com um dialeto local, de roupa largada, mas espera aí, de onde venho a maioria dos jovens andam assim! Então, são todos traficantes, estes que trazem o mal para sociedade, precisamos agir contra eles, olha o “presente de grego” novamente, vai vendo mais um espetáculo, constrói-se mais uma Unidade de Polícia Pacificadora - UPP.
Não adianta, a “violência” torna-se um símbolo para descrever o que as pessoas estão sendo, e apresenta-se enquanto espetáculo que envolve os mais afetados pelo show cotidiano, num âmbito circular que os condiciona a prisões por ações exteriores. Então, enquanto nos posicionarmos como impossibilitados de mudar o fator da violência, deixando os “fardados”, os “armados”, os “engravatados” e “entes abstratos” resolverem os nossos “problemas”, não se construirá novos caminhos emancipatórios e estaremos sempre presos a uma condição subalterna, e alheia.
Vivemos em meios aos conflitos, ou melhor, sobrevivemos por eles e entre eles seja nas periferias, no centro, nas universidades, nos cargos ditos de importância social, não importa, o nosso modo lutar, de ser, de pensar, de perceber o mundo ao nosso redor é diferente, e sendo diferente a reprodução deste mundo na prática também será diferente de quem sempre teve os privilégios.
Assim como, pela nossa ocupação as periferias do Brasil tornou-se característica de pobreza, o extermínio de jovens, especificamente, mas não exclusivamente na Bahia, é sinônimo de preto. Entendido o recado, então mãos a obra, pois todos os espaços que nós ocupamos tem que sempre ser pensado, e potencialmente tido como estratégico para promover nosso modo de pensar, de atuar, de escrever nossa história.
Então, não adianta reclamar que a escola pública é péssima, enquanto ela for para pobre e preto ela não vai ser diferente. Não adianta reclamar, pois para nós que sobrevivemos em meios aos conflitos, a tarefa é diária, eles não vão dar nenhum espaço que não seja o do subalternizado. Desde outrora reivindicamos por reparações, nossas pautas de luta ultrapassa gerações, da mesma medida que os estragos cometidos com o nosso povo.
A missão já foi dada quando nascemos, quando nós decidimos ser negros (as), você traz consigo a marca de guerreiros (as), transforme seu modo de pensar em instrumento de luta, a sua voz numa arma de emancipação, de resistência, de vida.


Falado do meu lugar, e que lugar! Nós por Nós sempre...

Por: Manoel Alves de Aujo Neto - Uh Neto  - Irmandade Sankofa

terça-feira, 9 de junho de 2015

REBELIÃO RACIAL E MASSACRE NA TERRA DE LUCAS DA FEIRA

Nas masmorras, entre grades e as escabioses,
tuberculoses e abandono, prisioneiros somam
 em suas marcas o estigma de explodir essa cidade,
 e morrem encarcerados sem nenhum protesto. 
 Hamilton Borges Walê,
Fragmentos de uma teoria geral do Fracasso[1].


Feira de Santana é uma cidade quente e encharcada de sangue negro, uma cidadela do racismo apelidada como Princesinha por uma aristocracia falida branco-sertanejo. Nessa terra hostil, os negros são caçados, capturados e abatidos como cães. O delito é o mesmo de 127 anos atrás: a cor da pele, o tamanho do nariz, os Deuses que honrosamente e humildemente carregamos em nosso Ôri. Toda essa violência racial acumulada do mundo escravagista transfigurou-se nesse grande purgatório neocolonial, em que segregação racial urbana, altas taxas de homicídio contra jovens negros, brutalidade policial endêmica e um dos maiores índices de mortes por “negligencia” hospitalar do Brasil tornam Feira de Santana peça chave no processo de interiorização do Genocídio Negro.
É nesse cenário de rebelião racial e massacre que está instalado o Conjunto Penal Regional de Feira de Santana, que no último domingo (24\05\2015) entrou para história recente dos massacres no Brasil, depois de ser a arena de uma rebelião que terminou com dez detentos mortos[2] e cinco feridos gravemente[3]. Uma matança sem precedentes nos últimos 20 anos do sistema penitenciário baiano.
 Como todo presídio no Brasil e no mundo, o conjunto penal de Feira de Santana é uma bomba relógio com explosão programada pelo Estado. Com capacidade para abrigar 600 internos, tem quase 2 mil. Só no pavilhão X, 638  internos ocupam 38 celas, em condições sub-humanas de alojamento, higiene e alimentação. Atrele todos esses ingredientes à índole sádica do Governador Rui Costa e da cúpula da Secretaria de Segurança Pública da Bahia, que mantém no mesmo bloco dois grupos de presos historicamente rivais, armando-os com revólveres, pistolas e facões: temos um massacre fratricida orquestrado com precisão cirúrgica Lynchiniana.
A desgraça coletiva do conjunto penal regional de Feira de Santana não é uma situação excepcional, mas sim um fragmento de uma realidade nacional. Segundo dados subnotificados do Sistema de Informação Penitenciaria (2011), o Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo, com cerca de 600 mil detentos\as. A cada 100 mil brasileiros 288 estão encarcerados, sendo que 70% desses detentos foram detidos por crimes contra o patrimônio e porte de entorpecentes. A massa carcerária tem cor, endereço e escolaridade. Mais de 70% da população intramuros é constituída de negros\as. Em sua maioria quase absoluta não possuem nem mesmo o ensino médio. Um dado particularmente alarmante é que mais de 70% são presos de caráter provisório, ou seja, não foram nem mesmo julgados pelo sistema judiciário.
Em 10 anos de luta organizada Contra o Genocídio Negro estivemos atuantes em penitenciárias da Bahia que nunca receberam a presença ilustre de um Secretário de Segurança Pública ou Governador. Nós conhecemos as entranhas e submundo pulsante do sistema prisional baiano. Já passamos por rebeliões, motins, greves de fome, protestos silenciosos, sabotagens. Paralisamos ruas e avenidas em frente de penitenciárias exigindo o fim dos dispositivos de controle racial, leia-se: Revista Vexatória e o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD)[4].  Entretanto, foi nesse território de constante repressão e violência racial que construímos uma de nossas mais poderosas células organizativas: a Associação de Familiares de Amigos\as de Presos\as da Bahia (ASFAP), um núcleo de base coordenado e liderado hegemonicamente por mulheres negras que há anos tem defendido o postulado político do abolicionismo penal, não em seminários pomposos com “ativistas” afro-intelectuais de meia pataca, mas sim, no interior do sistema penitenciário baiano, forjando e formulando nossa Plataforma Insurrecional Intramuros. Se todo detento negro é um preso político, o seu direito de livre organização tem que ser defendido.
Nesse contexto não é de nenhum alarde que nossa organização é irrestritamente solidária aos familiares dos presos assassinados no Massacre no Pavilhão X.  Também cabe ser declarado que nos solidarizamos com os presos, familiares e amigos que passaram momentos de terrorismo racial durante a rebelião, com a ameaça constante da SSP-BA soltar seus cães raivosos fardados contra os detentos amotinados, que foram acusados e julgados pela mídia de rapina como sequestradores. Quem conhece a cultura política carcerária sabe que não houve sequestro de parentes. Os familiares permaneceram dentro da casa correcional como estratégia comunitária de autodefesa para frear uma investida da polícia militar, que não tinha o mínimo interesse em  negociar uma “rendição”, mas sim, executar o máximo possível de detentos e depois colocar na conta das “Facções”.
O massacre no pavilhão X, com cabeças decapitadas, lençol no telhado com o CNPJ da firma e armamento de autocalibre, que, como é obvio, não entrou na grade pela genitália de uma mulher, evidencia bem mais do que os discursos morais religiosos e a Tese dos “Bons e maus meninos”, vomitados pelas redes sociais e mídia de rapina.  Diante de um padrão de governabilidade alicerçado na morte de negros\as, em que, apenas na gestão do Secretário de Segurança Pública Maurício Telles Barbosa, 25 mil  pessoas foram assassinadas, em média 15 homicídios por dia[5], sem contar as mais de 17 chacinas que vieram a público, como é o caso da Matança do Cabula.  Esses números, que como sabemos são subnotificados, não dão conta da dimensão real do Genocídio de Negros na Bahia, mas nos traz indícios para entender que o massacre na penitenciária estadual de Feira de Santana é uma peça nessa engenharia estatal da morte Negra, em que o Estado é o responsável direto, como dissemos anteriormente, essas armas não entraram na carceragem pela genitália de uma mulher.
Feira de Santana continua sendo uma cidade colonial incendiada secularmente por rebeliões e massacres.  Cabe retomarmos que foi nesse território hostil aos negros\as que viveu e morreu Lucas Evangelista dos Santos, o Lucas da Feira, como ficou mundialmente conhecido. Um homem preto revoltado, desobediente, indigesto, brigão, mandão, violento, cruel, vida Loka, contraditório. Não estamos falando de banditismo social, cangaço urbano ou de símbolo da luta por “Promoção da Igualdade Racial”. Lucas da Feira era gente ruim mesmo, periculoso, um menino mau.  Talvez por esses motivos, ou tão somente, no ano de 1828 pinotou da fazenda de seu antigo Senhor. Na fuga e pistoleiragem trombou com outros pretos\as revoltados e juntos lideraram por cerca de vinte anos uma rebelião racial permanente que levou o terror à aristocracia falida sertaneja. Até mesmo o Governador da Província da Bahia na época cabrerou e estipulou um prêmio de quatro mil reis pela captura e morte do Bando.
 Lucas da Feira foi capturado, aprisionado, executado e esquartejado em praça pública em 25 de setembro de 1849. Um criminoso que cometeu o delito de conquistar sua liberdade no cano de uma espingarda, no corte do facão, na marra, com violência e sem concessões. A Rebelião e Massacre no pavilhão X não pode ser deslocada dessa história de luta radical negra.

Professor Fred Aganju
Articulador da Campanha Reaja ou Seré Morta\o
Maio de 2015

TODO DETENTO\A NEGRO\A É UM PRESO POLÍTICO. COMO TAL, TEM DIREITO A LIVRE ORGANIZAÇÃO, SEM RESSALVAS.
  

[1] Ver na íntegra em: http://hamiltonbwale.blogspot.com.br/2010/03/continuamos-entrincheirados-3-anos-da.html
[2] Os detentos assassinados foram Silas da Silva, decapitado, residia no bairro Rocinha; Haroldo de Jesus Brito, da Rua Nova; Alisson Rodrigues Oliveira, do Conjunto Feira VII; Juliel Pereira dos Santos, do George Américo; Israel de Jesus Santos; Luiz Paulo de Souza Alencar; além do detento identificado apenas como Júnior.
[3] Os detentos feridos foram Dioclécio Aureliano dos Santos, Davi Pires Almeida Fernandes, Anderson Clayton Silva Nascimento, Iago de Jesus dos Santos e Luiz dos Santos Almeida.
[4] Isolamento total do detento, com apenas duas horas de banho de sol por semana, privação de sono, tortura física e psicológica, além da proibição de qualquer tipo de visita. O mesmo tratamento dado a “terroristas” por parte dos EUA na base naval de Guantanamo.
[5] Esses dados foram divulgados recentemente pela mídia e notificados a partir do cruzamento de dados usando informações do DataSUS, Mapa da Violência, Anuário da Segurança Pública, e os próprios boletins da Secretaria de Segurança Pública. Ver em: http://www.aratuonline.com.br/blogdepabloreis/2015/05/19/gestao-do-atual-secretario-da-ssp-ultrapassa-25-mil-homicidos-15-baianos-mortos-por-dia/

quarta-feira, 13 de maio de 2015

LIMA BARRETO: QUEM FOI?

Entre os inúmeros protagonistas negros e negras que lutaram bravamente contra o preconceito no Brasil. É imprescindível reverenciar o talentoso escritor e jornalista brasileiro Afonso de Henrique Lima Barreto, que nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 13 de Maio de 1881, hoje treze de Maio de 2015 em vida estaria completando 93 anos de idade. Lima Barreto ficou órfão de mãe ainda na infância, era considerado um aluno excelente na escola, posteriormente foi estudar no Ginázio Nacional, logo egressa na escola politécnica do Rio de Janeiro, porém abandona o curso para trabalhar e garantir o sustento da família, prestando concurso para escriturário indo trabalhar no Ministério da Guerra, onde eclodiria o protagonista do seu famoso livro Triste fim de Policarpo Quaresma.

Seu pai João Henriques queria a todo custo que o filho fosse um doutor, o próprio Lima Barreto comenta sobre isso, em Os bruzungandas “o ensino superior fascina todos (...). Os seus títulos, como sabeis, dão tantos privilégios, tantas regalias, que pobres e ricos correm para ele. Más só são três espécie que suscitam esse entusiasmo: o de médico, o de advogado e o de engenheiro...”. Interessante que sua crítica é atemporal, sagaz, correspondendo a cultura dos cursos ditos de elite, que garante o estatu quo do sujeito. Lima Barreto é conhecido por discorrer através dos seus romances, contos, sátiras e crônicas, críticas severas as injustiças sócias do seu tempo, apontando principalmente a impressa medíocre, a recente libertação, à condição da mulher, às desigualdades sociais, entre outros. Realizando uma radiografia da realidade a qual estava inserido.

Lima Barreto é considerado um escritor Pré- Modernista juntamente com Euclides da Cunha e Monteiro Lobato. O estilo de Lima Barreto foi alvo de críticas pelos seus contemporâneos, pois apresentava pouca erudição na linguagem, fazendo uso das palavras simples, do coloquial. Direcionando seus escritos a um público especifico, com certeza não era a elite. A experiência proporcionada por uma sociedade racista vivenciada por Lima Barreto felizmente ecoou na produção das suas obras, evidenciando a situação do povo preto. Possibilitando um arcabouço teórico para o enfrentamento ao racismo no Brasil.

Portanto, é notável a contribuição de Lima Barreto para a compreensão de um momento histórico que perpetua até os dias de hoje, tornando essencial o conhecimento deste, pois como aponta Marcus Garvey, “um povo que não conhece sua história é como árvore sem raiz”.

Por: Jean Santos Gomes - Irmandade Sankofa

terça-feira, 12 de maio de 2015

13 DE MAIO: UM ENGODO NACIONAL!

Na história contada de cima para baixo
Sinhá Isabel é princesa, boazinha
Vejam o que dizem que ela fez com sua mágica varinha.

Uma tal de Sinhá Isabel
Com sua vara de condão
Dizem ter sido a redentora
Por ter dado a “salvação”

Na história oficial
Sempre somos lembrados
Que num passe de mágica
Uma princesa branca
Libertou todos os negros escravizados

Será que essa história é verdade?
Os negros esperaram pacientes,
Por essa tal de liberdade?

Meu bisavô me contou
Uma história bem diferente
Foram muitos anos de resistência
E de luta dessa gente
Fugiam para escapar dos grilhões brancos
Jamais agiram pacificamente

Não podemos deixar de ter em mente
Que existia o movimento chamado abolicionista
Além dos interesses econômicos
Uma forma de ação capitalista

Tanto foi assim que Sinhá Isabel
Não deu nenhuma importância
Escravizados, libertos, jogados nas ruas
Sem perspectivas ou esperanças

Aboliram as senzalas
Mas não as estruturas da colonização
Libertos sem terra e sem dinheiro
Sem direito à educação
E pensar que até hoje a elite contesta a reparação!
Imagine no dia seguinte então...

Não dá para engolir tamanha farsa
Não temos motivos para comemorar
O 13 de maio foi um engodo
Pretexto para escamotear
A verdadeira realidade
E para a elite branca agradar

E o 14 de maio?
Você já parou para refletir?
Sem terra, sem casa ou educação
Sem saber qual direção seguir

A resposta não está difícil
Observe à sua volta
De escravos, a favelados
Vivem nas ruas, nas encostas
São vítimas das balas perdidas

E quem se importa?

Nos importemos sim!
Lutemos contra os instrumentos de coerção
Não podemos permitir, que o negro continue a limpar o chão
Dos que lhe exploram
Dos que hoje batem as panelas
Dos que desejam terceirização!

Por tanto Sinhá Isabel!
Não cometerei essa atrocidade
De reproduzir a versão da elite
Que até hoje esconde a realidade

Meu bisavô sim, contou a verdade
Que reproduzirei em rima
Por valorizar a sabedoria dos mais velhos

Que conta a história, de baixo pra cima.

Por: Jorsy Nilaja - Irmandade Sankofa

Referência: Sinhá Isabel de Leopoldo Duarte , Revista Fórum

13 DE MAIO - DIA NACIONAL DE DENÚNCIA CONTRA O RACISMO

Hoje é o dia de denúncia contra o racismo, 13 de maio foi escolhido pelo Movimento Negro Unificado após sua fundação em 1978. É mais um dia não apenas para denunciar, porém mais um dia para lembrarmos que a sociedade no qual nós negras e negros estamos inseridas/os é racista, vivemos numa segregação.

Falar de racismo é trazer para a discussão o próprio termo. Existe uma confusão em nossa sociedade sobre o conceito de racismo e quais os grupos/raças que mais sofrem com este tipo de violência, seja ela física ou simbólica. Racismo é relação de poder, é a crença e exercício de que existe um grupo/ raça superior a outro, historicamente sabe-se que a população negra, assim como a indígena, foi escravizada, inferiorizada e explorada pela sociedade mergulhada numa ideologia eurocêntrica, posso dizer uma ideologia etnocêntrica. Neste sentido, historicamente a população negra sofre racismo no Brasil (e no mundo) por uma prática que foi criada pelos brancos, brancos racistas.

O racismo está presente nas relações sociais, econômicas, territoriais, políticas e enfim...humanas (infelizmente), não quero dizer que o racismo é inato do ser humano, mas esta ideologia foi construída por seres humanos e ainda hoje é reproduzida pelos mesmos. Basta olhar para a história, a população negra não conhece o nosso passado, a nossa ancestralidade, somos violentados na escola, na universidade, na mídia e em outros espaços, o afrocídio tem presença marcante em nossas vidas. Quantas mulheres negras aprendem a amar seus cabelos desde cedo? Quantos mulheres e homens negros aprendem a amar a cor de sua pele? Os nossos traços? A nossa cultura? A nossa história? Mas afinal, que história?

A luta contra o racismo é também uma luta contra o genocídio, nossas/os pretas/os estão sendo mortas/os todos os dias, as crianças negras detestam seus cabelos, seus traços. Outro dia uma criança de 10 anos foi morta pela polícia no Morro do Alemão - RJ, em fevereiro de 2015 13 jovens foram mortos pela polícia em Salvador, ontem mataram uma mulher em Periperi/ Salvador – BA... e assim caminha a sociedade racista, onde 83 jovens negros são mortos por dia (Anistia Internacional). Não me diga que é complexo, não me diga que é vitimização, não me diga que é loucura, ah e não me diga que existe racismo reverso.


Todos os dias devemos denunciar o racismo, o racismo que materializa-se por meio do discurso, dos olhares, das práticas, do silêncio, das risadas, do humor, da ciência, da religião, da família, do Estado e das relações. Não devemos permitir que ignorem a nossa presença na sociedade. Somos povo negro de história, com história que precisa ser lembrada e afirmada continuamente. Na luta contra o racismo, Nós por Nós sempre!!!

Por: Tairine Cristina Santana de Souza - Irmandade Sankofa

DIA DOS PRETOS VELHOS - 13 DE MAIO

O dia 13 de maio é destinado na umbanda ao dia de preto velho, este símbolo que representa a serenidade e paz de espírito. Na época da escravidão no Brasil estes negros eram os senhores mais velhos que tentavam passar um pouco de conforto através da historia oral para seus descendentes presos nas senzalas.
Os pretos velhos na umbanda representam a sabedoria, resistência  e principalmente amor. A função dos pretos velhos é de dar conselhos ao seu povo ele age como um conselheiro, um amigo mais velho. Já outros acreditam que eles têm o poder de lutar contra o mal usando os banhos de ervas.
A grande sabedoria de preto velho é saber lapida o que há de melhor nas pessoas. Para que nunca sejam egoísta, sempre passando aos outros aquilo que aprende de bom. Tudo que receber de graça, deverá dar também de graça. Só na fé, no amor e na caridade, poderá encontrar seu caminho interior, a luz e Deus (Pai Cipriano) levando a ter a fé em deus e buscar o melhor caminho.
Quando falamos no termo velho ele é utilizado para mostrar experiência , pois quando pensamos em alguém mas velho vem em nossa cabeça que esta pessoa já passou por muita coisa na vida e que tem historias para contar é assim que as pessoas no mundo espiritual costuma imaginar preto velho, a característica dessa entidade é sempre de dar um bom conselho.
Ele utiliza de vestimentas simples e costuma usar lençóis, cachimbo ou um cigarro de palha sua incorporação não necessita de danças ou muitos pulos basta o pai ou mãe de santo se concentra, a incorporação ocorre e o médium começará há sentir um peso nas costas e anda como alguém mas velho. O modo como se manifestar retrata sua simplicidade, na sua maneira de falar e agir utilizando de palavras simples, a fala é mais pesada como alguém que já viveu entre nós a muito tempo atrás. Preto velho é a essência de nós ancestrais africanos que foram trazidos seqüestrados de África para trabalhar para os grandes senhores – brancos - , mas sua sabedoria e destreza fizeram com que sua fé nunca morresse.

Por: Danila dos Santos Santana - Irmandade Sankofa