Por: Alane Reis,
Editora chefe da revista afirmativa.
Salvador recebe mostra que retrata a beleza e a
força dos penteados afros
Os penteados afros é um tipo de arte presente
no dia a dia dos baianos: nas feiras e festas, nas escolas e universidades, nas
cabeças crepas por todo lugar. Para destacar a riqueza e a criatividade desta
arte, o fotógrafo Lázaro Roberto e a fundação Pierre Verger trazem a Salvador a
exposição “Qual o pente que te penteia?”, em cartaz entre o dia 09 de março ao
dia 30 de abril, no Espaço Pierre Verger da Fotografia Baiana, no Forte de
Santa Maria, no Porto da Barra.
A exposição é composta por 28 fotografias que
ostentam moda, afirmação, beleza e identidade, nos cabelos de pessoas negras de
todas as idades, gêneros, e regiões da cidade de Salvador. O artista
responsável, Lázaro Roberto, conhecido como “Lentes Negras” abre ao público
este pequeno fragmento de seu trabalho, organizado no Zumvi Arquivo
Fotográfico, um dos maiores acervos sobre as vivências e resistências do povo
negro baiano.
“Qual pente que te penteia” faz parte da Mostra
Temporária Fragmentos, espaço de exposição ao ar livre, organizado pela
Fundação Pierre Verger, que ao longo do ano convida 12 fotógrafos para expor
seus registros que retratam a diversidade do povo baiano. Fragmentos homenageia
o fotógrafo e pesquisador francês, radicado na Bahia, Pierre Verger, e expõe um
pouco da conexão entre estes dois artistas, já que Lázaro conviveu conviveu com
Verger, é grande admirador do seu trabalho, e o retratou ao final da vida, em
diversos momentos.
O ZUMVI arquivo fotográfico
Em
meados da década de 80, Lázaro Roberto comprou sua primeira câmera fotográfica,
e iniciou suas andanças pelas ruas, avenidas, becos, vielas, e todo e qualquer
espaço do cotidiano das pessoas negras de Salvador. Germinava a semente que
nasceria oficialmente no início da década seguinte, em 1990, ano de criação do ZUMVI arquivo
fotográfico, um acervo com mais de 30 mil fotografias que ilustram, contam,
revitalizam e preservam a memória da população negra na Bahia.
O ZUMVI arquivo fotográfico e a trajetória
artística e pessoal do fotógrafo Lázaro Roberto são histórias siamesas, ambos
forjados e comprometidos na luta contra o racismo e as múltiplas violências
contra a população negra. “Foi só em 1990 que eu percebi que nas
minhas fotografias eu tinha esse olhar sobre o negro, porque infelizmente as
pessoas nos veem, mas não nos enxergam”, comenta Lázaro, criador e guardião do
arquivo.
Nos últimos 30 anos, com o olhar atento e sensível,
a câmera na mão, e muito compromisso com a representação de sua gente, o
fotógrafo percorre e registra feiras, passeatas do movimento social negro, carnavais,
festas religiosas, e demais expressões do cotidiano das pessoas negras na
Bahia.
Todo este bem valioso da memória coletiva
baiana está guardado em um espaço de aproximadamente dois
metros quadrados, no fundo de sua casa, no bairro Fazenda Grande do Retiro, em
Salvador. Nesse pequeno espaço, Lázaro cuida, alimenta e guarda um dos
principais e talvez maiores acervos das memórias, lutas e glórias da negritude
da Bahia, o Zumvi Arquivo Fotográfico.
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