quinta-feira, 13 de abril de 2017

ENTRE CULTURAS: A FILOSOFIA QUE DESCOLONIZA OLHARES E PENSAMENTOS.



Por: Mirian Fonseca[i]



Ori eni ni Um ´ ni J´oba.

(A cabeça de uma pessoa faz dela um rei- provérbio Iorubá)



Resumo:


Este trabalho tem como principal objetivo trazer a discussão da filosofia africana como um instrumento de transformação e reconstrução de conceitos que coloca apenas o pensamento europeu como legítimo, para que possamos aceitar que cada povo tem seu jeito de filosofar, buscaremos mostrar através de pensamentos de alguns pensadores modernos como a filosofia é colonizada, e como os diálogos e compreensões entre as culturas descolonizam olhares e pensamentos, para que assim, mostre a importância do estudo da filosofia africana.



Palavras-chaves: Filosofia, colonizada, culturas, pensadores.



Introdução


Filosofar é refletir sobre a experiência humana para responder algumas questões fundamentais a seu respeito. A partir desta definição apresentada pelo filósofo Joseph I. Omoregbe (1998) podemos compreender a importância do pensamento africano que é ensinado de forma colonizada para a sociedade brasileira, para isto será levado em consideração que cada povo tem sua forma singular de produzir filosofia. Compreender a filosofia africana é apresentar um novo conceito desse pensamento que é construído de uma forma enriquecedora que resgata a ancestralidade e é baseada na oralidade e na compreensão dos povos, logo não podemos negar a importância das contribuições do continente africano na formação da filosofia africana. Este artigo não visa discutir o nascimento desta ciência, pois todas as culturas contribuíram de forma significativa, direta ou indiretamente na sua construção, o objetivo é mostrar que desconhecemos as formas de filosofia que não estejam dentro do padrão apresentado, o grego europeu. E por isso negamos outras formas de pensamentos. Desta forma, buscaremos elencar e mostrar como uma filosofia que é construída pelo resgate cultural e como o conceito do cosmopolitismo dialoga com isso, para assim, poder enxergar o quanto é válida essa construção para a valorização da cultura negra em todo país.



A filosofia que descoloniza olhares e pensamentos.


Construída diante de uma dominação colonial e imperial, a filosofia era utilizada para justificar as barbáries cometidas em nome de uma determinada civilização que se utilizava do seu poder político e epistemológico para inferiorizar povos que eram considerados incapazes de filosofar. Adilbênia Freire Machado em seu artigo, Filosofia africana para descolonizar olhares: perspectivas para o ensino das relações étnicos-raciais, afirma que a filosofia era utilizada para justificar e enaltecer a colonização e o imperialismo, usurpando conhecimentos, inferiorizando os latinos americanos e principalmente os negros africanos e posteriormente os afro-descentes. ( MACHADO, 2014 p.3). Compreender a dominação da Europa sobre a filosofia é entender que mesmo com as grandes influências econômica do continente africano na sua formação, do qual foi subjugado pelos mesmos como uma raça sub-humana que não poderiam ter nenhum tipo de poder intelectual, esses relatos foram utilizados por filósofos como Immanuel kant, David Hume, Friedrich Hegel e Karl Marx, com destaque para Hegel que está entre os filósofos que mais negaram a qualquer capacidade intelectual do africano; na sua obra ´´filosofia da história´´, declarou a África como um papel em branco, contra qual o poder ia comparar toda a razão’’( MACHADO, 2014 p.3) e ainda classificou o continente africano como o país da infância, de uma forma negativa como se a criança não tivesse capacidade de discernimento de conhecer, apenas de fazer o que os outros mandam. Kant segundo o autor entendia que cor de pele evidenciava a capacidade ou ausência de raciocínio, ou seja, os africanos eram incapazes de produzir conhecimentos (MACHADO, 2014).

Esses filósofos refletiam os ensinamentos da sua época que eram baseados na desvalorização da raça negra, ou seja, podemos contextualizar esses conceitos apresentados como racismo epistemológico, que trata da não consideração das contribuições não ocidentais, ou seja: O racismo epistêmico ou epistemológico é uma das dimensões mais perniciosas da discriminação étnico-racial negativa. Em linhas gerais, significa a recusa em reconhecer que a produção de conhecimento de algumas pessoas seja válida por duas razões: 1º) Porque não são brancas; 2º)Porque as pesquisas e resultados da produção de conhecimento envolvem repertório e cânones que não são ocidentais. (NOGUEIRA, 2015). Como apresentado pelo filósofo brasileiro Renato Nogueira, em uma entrevista para a carta capital.

Deste modo, se faz necessário descolonizar nossos pensamentos já que filosofar faz parte da construção intrínseca humana, a filosofia é um produto do conhecimento e da cognição (MACHADO, 2014 p.4) , então é necessário perceber a importância que o continente africano teve na formação desta ciência para se buscar uma descolonização e valorização da mesma. Descolonizar a filosofia compreender a importância dos outros pensamento, criados por outros povos, com destaque para o africano que desde sempre foi colocado na periferias dos pensamentos e fazer com que o pensamento se torne independente e se estabeleça um determinado dogma, ou seja, podemos dizer que: Descolonizar a filosofia implica seu ressignificar, em que ela apareça a serviço da ética, em que o indivíduo seja o bem maior e não os interesses políticos de países e classes sociais que intentam obter todo o poder possível, seja ele econômico, social, político e/ou cultural. Em que a imposição aparece como um dos sinônimos da filosofia. Esse ressignificar o olhar implica valorizar o que somos, implica reconhecer o outro e, assim, ir de alcance à alteridade. (MACHADO, 2014 p.5).

Já que precisamos ressignificar o pensamento, para descolonizar os nossos olhares, então precisamos saber a importância da filosofia africana que é construída através da ancestralidade e da preocupação com a coletividade dos indivíduos. ‘’Filosofar, educar ouvindo e citando mestres de capoeira, samba, maracatu, referindo-se aos heróis do cotidiano, aos mais velhos de cada lugar em meio aos renomados nomes da história da filosofia, da educação, ou seja, aqueles que se arrogam o direito de falar, pensar e criar conceitos, conhecimento. (MACHADO, 2014 p.5) Ou seja, é buscar a importância do resgate cultural que este pensamento tem em grande influencia para a construção  e colaboração da criatividade de uma pessoa.

A importância da filosofia africana é entendida a partir do momento em que se é compreendida a sua origem. Para isso, podemos fazer um paralelo com um conceito do cosmopolitismos, questionado e defendido pelo filósofo africano moderno, Kwame Anthony Appiah. Ele afirma que, precisamos encorajar um diálogo entre culturas para uma melhor compreensão das produções do outro, para Kwame um diálogo intercultural cosmopolita é aquele que nos tratamos como cidadãos de um mundo compartilhado, e, portanto dignos de respeito mútuo, isso significa que não podemos discordar.’’(APPIAH,2013,p.3), o autor ainda completa que; ‘’não podemos achar que nós temos todas as respostas, seja lá quem seja esse nós. Temos de nos colocar em um diálogo no qual imaginamos que podemos aprender com o outro.’’ (APPIAH, 2013,p.3), este paralelo pode ser feito pois a ‘’ filosofia africana contemporânea tem a cultura como eixo significante na sua constituição, é fruto da experiência, é aquela filosofia feita não apenas por filósofos africanos, mas também por aqueles que estão implicados em direcionar sua atenção aos problemas dos africanos, sejam os nascidos na África’’ ( MACHADO, 2014 p.6), desta forma, a filosofia nos ensina a resolver problemas, concepções de vidas , suas culturas, crendices, mitos, poesias , modo de pensar e refletir a vida.

Vale ressaltar que a filosofia africana contemporânea é baseada em alguns ensinamentos e está dividida em etnofilosofia. Que é a relação da filosofia com a cultura e considera a sabedoria coletiva como ontológico em hipótese geral; Sagacidade filosófica, onde encontramos o sistema de pensamento que se encontra baseado na sabedoria e nas tradições dos povos e das relações da pessoa com a comunidade; Filosofia nacionalista/ideológica, é a filosofia política, que busca pelas correntes de interesses afim de responder alguns problemas enfrentados pelo africano no continente; Filosofia literária/artística onde se preocupa com as produções literárias daqueles que refletiam, questões críticas; e a filosofia hermenêutica, responsável por fazer uma análise das linguagens e se preocupa com a interpretação da mesma.



Considerações finais


A filosofia responsável por descolonizar olhares e pensamentos, é uma filosofia que busca fazer um resgate cultural e que se preocupa com o outro e sua real essência. Buscar esses diálogos multiculturais é fortalecer leis existentes no Brasil, como por exemplo, a lei 10.639/03 que garante o ensino de história afro brasileiras nos currículos escolares, e é uma das formas de valorização da cultura africana. Portanto, podemos concluir que este artigo teve um papel importante e de grande relevância, demonstrando o quanto se faz necessário buscar referências que não estão enquadradas em nossos currículos escolares a fim de conhecer e descolonizar nossos olhares e pensamentos sobre uma determinada cultura.























REFERENCIAS:



APPIAH, Kwame Anthony . Descolonizando os livros de história . Entrevista a guilherme

freitas. prosa e verso, o globo, 2013. Disponível em

<http://blogs.oglobo.globo.com/prosa/post/kwame-anthony-appiah-fala-sobre-representacaoda-

africa-no-ocidente-481076.html> Acesso em 15 de fev 2017.

MACHADO, Adilbênia Freire. Filosofia africana que descoloniza olhares e pensamentos:

Perspectivas para o ensino das relações étnicos-raciais . Revista de educação ciência e

tecnologia, canoas, v3, n1, 2014. Disponível

em:<http://filosofia-africana.weebly.com/uploads/1/3/2/1/13213792/adilb%C3%AAnia_freir

e_machado_-_filosofia_africana_para_descolonizar_olhares._perspectivas_para_o_ensino_da

s_rela%C3%A7%C3%B5es_%C3%A9tnico-raciais.pdf> Acesso em 10 de fev 2017.

NOGUEIRA, Renato . Afroperspectividade: Por uma filosofia que descoloniza . Entrevista

a carta capital . Disponível em: <

http://negrobelchior.cartacapital.com.br/afroperspectividade-por-uma-filosofia-que-descoloni

za/> acesso em 10 de fev 2017.




[i]  Discente curso técnico em petróleo e gás natural , do Instituto Federal da Bahia - Campus Simões Filho. Ativista , poeta, apaixonada por arte











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