Por: Mirian Fonseca[i]
Ori eni ni Um ´ ni J´oba.
(A cabeça de uma pessoa faz dela um rei- provérbio Iorubá)
Resumo:
Este trabalho tem como principal objetivo trazer
a discussão da filosofia africana como um instrumento de
transformação e reconstrução de conceitos que coloca
apenas o pensamento europeu como legítimo, para que possamos
aceitar que cada povo tem seu jeito de filosofar, buscaremos mostrar através de pensamentos de alguns pensadores modernos como a filosofia é colonizada, e como os diálogos e compreensões entre as culturas descolonizam olhares e pensamentos, para que
assim, mostre a importância do estudo da filosofia africana.
Palavras-chaves: Filosofia, colonizada, culturas, pensadores.
Introdução
Filosofar é refletir sobre a experiência humana para responder
algumas questões fundamentais a seu respeito. A partir desta
definição apresentada pelo filósofo Joseph I. Omoregbe (1998) podemos compreender a importância do pensamento africano que é ensinado de forma
colonizada para a sociedade brasileira, para isto será levado em consideração que cada povo tem sua
forma singular de produzir filosofia. Compreender a filosofia africana é apresentar um novo conceito desse pensamento que é construído de uma forma enriquecedora que resgata a
ancestralidade e é baseada na oralidade e na compreensão dos povos, logo não podemos negar a importância das contribuições do continente africano na formação da filosofia africana. Este artigo não visa discutir o nascimento desta ciência, pois todas as culturas contribuíram de forma significativa, direta ou indiretamente na sua construção, o objetivo é mostrar que desconhecemos as formas de
filosofia que não estejam dentro do padrão apresentado, o grego europeu. E por isso negamos outras formas
de pensamentos. Desta forma, buscaremos elencar e mostrar como uma filosofia
que é construída pelo resgate cultural e
como o conceito do cosmopolitismo dialoga com isso, para assim, poder enxergar
o quanto é válida essa construção para a valorização da cultura negra em todo país.
A filosofia que descoloniza olhares e
pensamentos.
Construída diante de uma dominação colonial e imperial, a
filosofia era utilizada para justificar as barbáries cometidas em nome de
uma determinada civilização que se utilizava do seu poder político e epistemológico para inferiorizar povos que eram considerados
incapazes de filosofar. Adilbênia Freire Machado em seu artigo, Filosofia africana
para descolonizar olhares: perspectivas para o ensino das relações étnicos-raciais, afirma que a “filosofia era utilizada para justificar e enaltecer a colonização e o imperialismo, usurpando conhecimentos, inferiorizando os
latinos americanos e principalmente os negros africanos e posteriormente os
afro-descentes.” ( MACHADO, 2014 p.3). Compreender a dominação da Europa sobre a filosofia é entender que mesmo com as
grandes influências econômica do continente
africano na sua formação, do qual foi subjugado pelos mesmos como uma
raça sub-humana que não poderiam ter nenhum tipo
de poder intelectual, esses relatos foram utilizados por filósofos como Immanuel kant, David Hume, Friedrich Hegel e Karl Marx,
com destaque para Hegel que “está entre os filósofos que mais negaram a qualquer capacidade intelectual do
africano; na sua obra ´´filosofia da história´´, declarou a África como um papel em branco, contra qual o
poder ia comparar toda a razão’’( MACHADO, 2014 p.3) e
ainda classificou o continente africano como o país da infância, de uma forma negativa como se a criança não tivesse capacidade de discernimento de
conhecer, apenas de fazer o que os outros mandam. Kant segundo o autor entendia
que cor de pele evidenciava a capacidade ou ausência de raciocínio, ou seja, os africanos eram incapazes de produzir
conhecimentos (MACHADO, 2014).
Esses filósofos refletiam os ensinamentos da sua época que eram baseados na desvalorização da raça negra, ou seja, podemos contextualizar esses
conceitos apresentados como racismo epistemológico, que trata da não consideração das contribuições não ocidentais, ou seja: O racismo epistêmico ou epistemológico é uma das dimensões mais perniciosas da discriminação étnico-racial negativa. Em linhas gerais, significa a recusa em
reconhecer que a produção de conhecimento de algumas pessoas seja válida por duas razões: 1º) Porque não são brancas; 2º)Porque as pesquisas e resultados da produção de conhecimento envolvem repertório e cânones que não são ocidentais. (NOGUEIRA, 2015). Como apresentado pelo filósofo brasileiro Renato Nogueira,
em uma entrevista para a carta capital.
Deste modo, se faz
necessário descolonizar nossos pensamentos já que filosofar faz parte da construção intrínseca humana, a “filosofia é um produto do conhecimento e da cognição (MACHADO, 2014 p.4) , então é necessário perceber a importância que o continente africano teve na formação desta ciência para se buscar uma descolonização e valorização da mesma. Descolonizar a filosofia
compreender a importância dos outros pensamento, criados por outros
povos, com destaque para o africano que desde sempre foi colocado na periferias
dos pensamentos e fazer com que o pensamento se torne independente e se
estabeleça um determinado dogma, ou seja, podemos dizer
que: Descolonizar a filosofia implica seu
ressignificar, em que ela apareça a serviço da ética, em que o indivíduo seja o bem maior e não os interesses políticos de países e classes sociais que intentam obter todo o poder possível, seja ele econômico, social, político e/ou cultural. Em que a “imposição” aparece como um dos sinônimos da filosofia. Esse ressignificar o olhar implica valorizar
o que somos, implica reconhecer o outro e, assim, ir de alcance à alteridade. (MACHADO, 2014 p.5).
Já que precisamos ressignificar o pensamento, para descolonizar os
nossos olhares, então precisamos saber a importância da filosofia africana que é construída através da ancestralidade e da preocupação com a coletividade dos indivíduos. ‘’Filosofar, educar ouvindo e citando mestres de capoeira, samba,
maracatu, referindo-se aos heróis do cotidiano, aos mais velhos de cada lugar
em meio aos renomados nomes da história da filosofia, da educação, ou seja, aqueles que se arrogam o direito de falar, pensar e
criar conceitos, conhecimento.” (MACHADO, 2014 p.5) Ou seja, é buscar a importância do resgate cultural que este pensamento tem
em grande influencia para a construção e colaboração da criatividade de uma
pessoa.
A importância da filosofia africana
é entendida a partir do momento em que se é compreendida a sua origem. Para isso, podemos fazer um paralelo
com um conceito do cosmopolitismos, questionado e defendido pelo filósofo africano moderno, Kwame Anthony Appiah. Ele afirma que,
precisamos encorajar um diálogo entre culturas para uma melhor compreensão das produções do outro, para Kwame “um diálogo intercultural cosmopolita é aquele que nos tratamos como cidadãos de um mundo compartilhado,
e, portanto dignos de respeito mútuo, isso significa que não podemos discordar.’’(APPIAH,2013,p.3), o autor
ainda completa que; ‘’não podemos achar que nós temos todas as respostas, seja lá quem seja esse “nós”. Temos de nos colocar em
um diálogo no qual imaginamos que podemos aprender com
o outro.’’ (APPIAH, 2013,p.3), este paralelo pode ser
feito pois a ‘’ filosofia africana contemporânea tem a cultura como eixo significante na sua constituição, é fruto da experiência, é aquela filosofia feita não apenas por filósofos africanos, mas também por aqueles que estão implicados em direcionar sua atenção aos problemas dos africanos, sejam os nascidos na África’’ ( MACHADO, 2014 p.6), desta forma, a
filosofia nos ensina a resolver problemas, concepções de vidas , suas
culturas, crendices, mitos, poesias , modo de pensar e refletir a vida.
Vale ressaltar que a
filosofia africana contemporânea é baseada em alguns ensinamentos
e está dividida em etnofilosofia. Que é a relação da filosofia com a cultura e considera a
sabedoria coletiva como ontológico em hipótese geral; Sagacidade
filosófica, onde encontramos o sistema de pensamento
que se encontra baseado na sabedoria e nas tradições dos povos e das relações da pessoa com a comunidade; Filosofia nacionalista/ideológica, é a filosofia política, que busca pelas correntes
de interesses afim de responder alguns problemas enfrentados pelo africano no
continente; Filosofia literária/artística onde se preocupa com
as produções literárias daqueles que
refletiam, questões críticas; e a filosofia
hermenêutica, responsável por fazer uma análise das linguagens e se preocupa com a interpretação da mesma.
Considerações finais
A filosofia responsável por descolonizar olhares e pensamentos, é uma filosofia que busca fazer um resgate cultural e que se
preocupa com o outro e sua real essência. Buscar esses diálogos multiculturais é fortalecer leis
existentes no Brasil, como por exemplo, a lei 10.639/03 que garante o ensino de
história afro brasileiras nos currículos escolares, e é uma das formas de
valorização da cultura africana. Portanto, podemos
concluir que este artigo teve um papel importante e de grande relevância, demonstrando o quanto se faz necessário buscar referências que não estão enquadradas em nossos currículos escolares a fim de
conhecer e descolonizar nossos olhares e pensamentos sobre uma determinada
cultura.
REFERENCIAS:
APPIAH, Kwame Anthony . Descolonizando os livros de história . Entrevista a guilherme
freitas. prosa e verso, o globo, 2013. Disponível em
<http://blogs.oglobo.globo.com/prosa/post/kwame-anthony-appiah-fala-sobre-representacaoda-
africa-no-ocidente-481076.html> Acesso em 15
de fev 2017.
MACHADO, Adilbênia Freire. Filosofia africana que descoloniza olhares
e pensamentos:
Perspectivas para o ensino das relações étnicos-raciais . Revista de educação ciência e
tecnologia, canoas, v3, n1, 2014. Disponível
em:<http://filosofia-africana.weebly.com/uploads/1/3/2/1/13213792/adilb%C3%AAnia_freir
e_machado_-_filosofia_africana_para_descolonizar_olhares._perspectivas_para_o_ensino_da
s_rela%C3%A7%C3%B5es_%C3%A9tnico-raciais.pdf>
Acesso em 10 de fev 2017.
NOGUEIRA, Renato . Afroperspectividade: Por uma filosofia que
descoloniza . Entrevista
a carta capital . Disponível em: <
http://negrobelchior.cartacapital.com.br/afroperspectividade-por-uma-filosofia-que-descoloni
za/> acesso em 10 de fev 2017.
[i] Discente curso técnico em petróleo e gás natural , do Instituto Federal da Bahia -
Campus Simões Filho. Ativista , poeta, apaixonada por arte
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