terça-feira, 4 de agosto de 2015

O RAP E O SEU PODER ENTRE JOVENS NEGROS (AS)

Após alegrar-me com a "volta" do grupo de RAP RZO, retornei a ouvir um dos seus álbuns "A evolução é uma coisa". Este, em específico, marcou o cenário do RAP nacional em 2002, só quem é entenderá. Dentre tantas as frases e versos expressos, uma me chamou mais a atenção... Especificamente no refrão da música "Vários Manos", que diz o seguinte: "A vida é assim... Favela ou crime; Foi bom pra mim; Responsa humilde; A mili-ano o que é; Tem que ser o que é; Tem que ser!!!"

Bem, penso que estrategicamente formos (a população Negra) inseridos no quadro de violências, num arcabouço de mazelas.. "criminalidade".. de subalternizações... A mili-ano, a séculos sobrevivemos mediante o medo, o terror, aos extermínios sistemáticos de nossa população, sobretudo os (as) jovens negros (as).

E partindo disto, do cotidiano destes jovens, que vivenciam as consequências de serem moradores (as) de periferia, começam a problematizar criticamente pelas músicas e discursos em espaços informais, em espaços tidos como “marginalizados” pela ocupação destes grupos sociais. Tal ação de negligência, exclusão e confronto histórico, foi incorporada a uma metodologia produzida (entre a arte e realidade). E por meio disto, a juventude utiliza a rebeldia aprendida nas ruas, como modo estratégico de sobrevivência coletiva da população negra, servindo como meio autônomo e alternativo de educar a si e a outros. 

Para Magro (2002), parafraseando Silva (1999), afirma que o RAP constitui-se com um determinado tipo de linguagem juvenil, simbolizando um modo de educação não-formal que almeja descrever a realidade cotidiana com o intuito de propiciar outros modos de percepção e interação. Assim, as “canções de rap são denúncias da exclusão social e cultural, violência policial e discriminação social; constituindo-se de longas descrições do dia-a-dia de jovens que vivem nas periferias” (Magro, 2002, p. 71).

De acordo com isso, o rapper e escritor Eduardo Taddeo, expressa o seguinte: “Pros filhos da burguesia, esse ideário chegou via sala de aula ou biblioteca particular, já para maioria dos filhos da miséria, o fio condutor foi outro: o “RAP”!” (2012, p. 117). 

Neste sentido, pensando e construindo propostas por meio deste quadro, o RAP tornou-se o elemento de luta contra-hegemônica, propondo alternativas educativas, culturais, de valorização, entre outros.. para as pessoas e as quebradas... 

Por meio deste mundo, buscamos a compreensão da práxis, do mundo opressor e limitador que nos envolve... E transformamos esse contexto em RAP, e por ele, refletimos, construímos estratégias de superação do nosso lugar socialmente definido, e deste lugar produzimos algo além de só arte... 

Pois, para além da estética, e um movimento juvenil urbano, o RAP criou um ambiente em que o “eu” e o “mundo” são conectados no movimento que perpassa entre a percepção, sensibilidade e a consciência social. E tais aspectos quando refletidos, e trazidos como objeto cognoscível na atividade prática, podendo servir como uma grande ferramenta para a construção de outras formas de conhecimento. 

Reflexões entre o frio e o calor de Amargosa -BA...

Referências:

MAGRO, Viviane Melo de Mendonça. Adolescentes como autores de si próprios: Cotidiano, educação e o Hip Hop. Cad. Cedes, Campinas, v. 22, n. 57, agosto/2002, p. 63 – 75. Disponível em: <http:// www.cedes.unicamp.br>. Acesso em: 22/04/15.
TADDEO, Carlos Eduardo. A Guerra não declarada na visão de um favelado. 1ªed. São Paulo, 2012.
RZO. Música Vários Manos. Disponível em: <http://www.vagalume.com.br/rzo/varios-manos.html>. Acesso em: <04/08/15>

Por: Manoel Alves de Araújo Neto - Uh Neto - Irmandade Sankofa

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